Coluna de André Andrès, na Revista.AG, jornal A GAZETA, de 22 de julho
Carvalho faz bem ao vinho. Mas desconfie se o toque “amadeirado” for exagerado: você pode estar tomando um vinho ruim “disfarçado” pelo excesso de madeira
Carvalho faz bem ao vinho. Mas desconfie se o toque “amadeirado” for exagerado: você pode estar tomando um vinho ruim “disfarçado” pelo excesso de madeira
Há poucos meses, um dos bares mais tradicionais de São
Paulo, o Léo, foi fechado pela Vigilância Sanitária e pelo Procon. Além de
servir alimentos deteriorados, os proprietários cometeram um sacrilégio: vendiam
chope de qualidade inferior ao anunciado. Isso num local tratado pelos
paulistanos como templo da bebida. Poucos sabem, no entanto, como esse pecado
foi descoberto. Um apreciador dos chopes do Léo achou a bebida exageradamente
gelada. A temperatura estava muito abaixo do recomendável e bem diferente
daquela tradicionalmente servida no bar. Desconfiou. Perguntou ao garçom, com
mais de 40 anos de casa, que marca de chope era aquela. E o garçom foi honesto:
“Esse chope é tal. Eu falei que ia dar confusão. Acabou de dar...”,
respondeu.
Excesso muitas vezes servem para disfarçar defeitos.
Isso ocorreu no caso do chope. E isso acontece também com os vinhos. Como se
sabe, a passagem por barris de carvalho é fundamental para garantir o bom
amadurecimento do mosto de uvas, além de seus sabores e aromas característicos.
Mas esse mesmo carvalho pode servir para disfarçar defeitos do vinho. Produtores
chilenos e australianos, por exemplo, chegam a mergulhar pedaços de madeira
(chamados de “chips”) no mosto. O vinho não é levado à madeira, mas a madeira
vai até o vinho – e ele fica com seus defeitos disfarçados, ganha qualidade
temporária, fica “amadeirado”. O tinto só não ganha a estrutura necessária para
viver mais e melhorar com o passar do tempo, características emprestadas pela
passagem em boas barricas.
Como a sofisticação chegou também aos chips, já é
possível usar pedaços de madeira mais ou menos tostados, como ocorre com os
barris de carvalho. Ou seja, ficou cada vez menor a diferença entre vinhos
bem-produzidos, com passagem por barricas, e os xaropes de madeira,
“disfarçados” de bom vinho. Por isso existe uma tendência no Chile de reduzir o
tempo de guarda nos barris, de trabalhar a uva, produzir algo com menos madeira.
Os vinhos ficam menos potentes, mais elegantes. Mostram o que realmente são. Sem
extremos. Mesmo porque, como se sabe, a real virtude não está na moderação
exagerada nem no excesso desmesurado, mas no equilíbrio, sempre muito
desejado...
R$ 69
Morandé Edición Limitada Pinot Noir
O vinho está em promoção. Aproveite para saber como um Pinot Noir pode ser bem tratado no Chile. Passa 16 meses em barricas de carvalho. Vinho equilibradíssimo. Delicioso.
Onde comprar: Carone
R$ 89
Maycas del Limari Reserva Especial Syrah
A Syrah, uva confiável, passa 12 meses em barricas de carvalho francês. Como todos os vinhos produzidos pela vinícola Maycas, ligada à gigante Concha y Toro, este também é muito bom. Ótimo equilíbrio entre aromas e sabores, sem excessos. Como deve ser, aliás...
Onde comprar: Enotria
R$ 90
Calyptra Gran Reserva Chardonnay
É possível usar a madeira além do período convencional e conseguir vinhos bem-equilibrados. A Calyptra coloca seus brancos adormecendo 24 meses em barris de carvalho – algo incomum. Resultado: vinhos excelentes, de longa vida pela frente.
Onde comprar: wine.com
R$ 99
Beronia Reserva
A permanência em carvalho é tão importante na Espanha que acaba definindo o tipo de vinho mais do que em outros países (eles podem ser crianza, reserva ou gran reserva). Esse Beronia é reserva: passou 18 meses em barris de carvalho. E é espetacular. Um grande Rioja.
Onde comprar: lojas e supermercados
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