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domingo, 10 de junho de 2012

Uma taça de paixão

Texto de André Andrès publicado na Revista.AG dia 10 de junho de 2012

Assim como ocorre com os vinhos, os amores e as paixões se modificam ao longo do tempo, podendo provocar sensações difíceis de definir...


O amor é, por vezes, ridículo. Quando ele está no começo, então, é de um ridículo atroz, principalmente para quem o vê de fora. Os apelidos, o ar meio abobalhado de quem está enamorado, as frases apaixonadas... As frases... Algumas delas repetem clichês criados por amantes de um passado muito longínquo. “Por onde você estava durante todo esse tempo?” é uma variação um pouquinho mais pobre de um dos muitos poemas de Julieta para Romeu. Desgastada pelo uso excessivo, a bela definição “O coração tem razões que a própria razão desconhece” está em “Pensamentos”, livro do matemático e filósofo Blaise Pascal, editado em 1670... Por serem muito usadas, por se tornarem clichês, essas frases perderam sentido? Ao contrário – mesmo porque o amor necessita ser sentido, e não de algum sentido. Uma delas, aliás, estabelece o amadurecimento do amor, quando ele passa do estágio quase puro do namoro para o do relacionamento durável: “Quero envelhecer ao seu lado...” É como se a pessoa dissesse que quer entrelaçar os destinos, criando raízes e troncos, fortes, duradouros. Robustos como o de uma videira de muitas décadas.
 
Os frutos dessa videira só podem ser muito especiais. Vê-se isso tanto em famílias felizes quanto em vinhos de grande qualidade. Como o D, ícone da casa chilena Donoso, tinto de produção relativamente pequena (13 mil garrafas, em média). As uvas usadas em sua produção (Cabernet Sauvignon, Carménère, Malbec e Cabernet Franc) saem de videiras com mais de 60 anos. Como ocorre com amores amadurecidos pelo tempo, capazes de desbastar arestas e tirar da relação apenas o que ela tem de bom, essas árvores produzem poucos, mas excelentes frutos. O resultado só podia ser um vinho largamente premiado, como é o caso do D.
No entanto, para alguns entendedores de tintos e brancos, a qualidade de uma vinícola não deve ser medida por seus rótulos mais sofisticados, e sim por aqueles mais simples, “de entrada de linha”, como dizem os especialistas, ou mais baratos, para ser mais direto. E isso a Donoso consegue fazer bem: o Evolución funciona muito bem dentro de sua faixa de preço. Um pouco mais caro, mas ainda numa boa faixa de preço, o Bicentenário evolui bem na taça.
Os vinhos mais elaborados da Donoso apresentam grande variedade de aromas e sabores a serem decifrados. Enigmas a serem desvendados, como se fossem amores desabrochando. Assim como acontece com bons vinhos, eles evoluem, amadurecem, melhoram com o tempo. E por isso merecem ser provados com cuidado, lentamente. Para que provoquem prazer. E surpresas. Sempre. Como se cada gole ou cada beijo fosse o primeiro. Aquele, inesquecível, doce como uma uva, forte como uma videira...

Os vinhos da casa Donoso

R$ 25
Evolución
Cabernet Sauvignon que serve como vinho básico da vinícola. Prova de qualidade da Donoso. Bate outros na sua faixa de preço e também vinhos mais caros. Fácil de beber.

R$ 48
Bicentenário
O nome homenageia a independência do Chile. Carménère de excelente custo-benefício. Na taça, evoluiu muito, com aromas de café tomando todo o copo.

R$ 55
Clos Centenaire
A Donoso usa muito o corte bordalês (neste caso, mescla de Cabernets Sauvignon e Franc, Carménère e Malbec). O Clos é um vinho bem elegante.

R$ 90
1810
Ao lado do Perla Negra, forma a linha premium da vinícola. Muito premiado, é uma combinação bem feita de Cabernet Sauvignon e Carménère.

R$ 118
Perla Negra
O último vinho da degustação não é barato, mas tem ótima relação custo-benefício: vale mais do que custa. Corte bordalês resulta num tinto
excepcional.

R$ 180
D
O vinho ícone da Donoso também é feito com corte bordalês.  Potente, equilibrado, muito rico e complexo nos aromas e sabores. Tem muita vida pela frente. Excelente tinto.