BLOGGER TEMPLATES AND TWITTER BACKGROUNDS

sábado, 2 de junho de 2012

Noite de Tokaji Aszú






Encontro no Carone de Vila Velha, tendo, como sempre, o grande anfitrião Vanderlei Martins. Neste dia, a confrade Marli Siqueira, além de sortear uma linda echarpe de onça vinda direto de Paris (quem ganhou foi Marina Monteiro), nos ofereceu um Tokaji Aszú Oremus 2003. Conta a lenda, que os vulcões da Hungria foram os primeiros responsáveis pela formação dos terroirs de Tokaj, região situada no nordeste do país, próxima à fronteira da Eslováquia. Mas foram os romanos que plantaram os primeiros vinhedos na região. 


Até que lá pelos anos 1240, os húngaros, preocupados com os ataques dos turcos, resolveram atrasar a colheita das uvas, o que ocasionou o surgimento de um misterioso fungo - Botrytis cinerea - que atacou as videiras. Naquela época as coisas eram difíceis e qualquer desperdício significava um sacrilégio, por isso produziram o vinho assim mesmo. 

Os húngaros não sabiam, mas estavam começando a produzir um dos mais espetaculares vinhos de sobremesa de todos os tempos, uma bebida refinada, de coloração dourada, com notas intensas de mel e frutas secas.

Hoje, os Tokajis (lê-se tocáiis), da região de Tokaj, são reconhecidos pela Unesco como os primeiros no mundo produzidos de uvas botritizadas. A Botrytis cinerea é um fungo microscópico que ataca as uvas, penetra em seu interior e as desidrata severamente, deixando-as com aparência de uvas passas. No interior do fruto desidratado, permanece alto teor de açúcar, sais minerais e ácidos naturais residuais. Os húngaros chamam essa uva murcha de fungo de Aszú.  

A Botrytis cinerea nunca ataca os cachos por inteiro, o que faz com que a colheita de Aszú seja lenta e trabalhosa. São necessárias diversas passadas para o "picking" - nome que se dá ao processo de seleção dos bagos botritizados. Essa tarefa é realizada exclusivamente por mulheres, pois homens, claro, não têm paciência para executar a delicada tarefa. Por isso, algumas mulheres trabalham na colheita há mais de 60 anos.

O vinho é tão famoso que é citado até na letra do hino nacional da Hungria. E por isso é conhecido como “néctar dos deuses”. O grande pensador francês Voltaire, por exemplo, dedicou-lhe um poema. E não é difícil imaginar que algumas das melhores obras de Beethoven, Schubert e Rossini tenham sido inspiradas por uma ou duas taças de Tokaji, do qual eram admiradores.

Conta a lenda que desde a Idade Média o Tokaji Aszú é conhecido como “Vinum regnum-rex vinorum",  algo como “vinho dos reis e rei dos vinhos”. Dizem que foi assim que Luís XIV, o Rei Sol, o teria apresentado a sua amante, Madame de Pompadour. A lista inclui, também, a rainha Vitória, da Inglaterra; o tzar Pedro, “o Grande”, da Rússia; e a imperatriz Maria Teresa, da Áustria. Todos acreditavam que este vinho trazia longevidade a quem o degustava.

As uvas Aszú (botritizadas) chegam à vinícola em recipientes de madeira, que comportam em torno de 25 quilos, chamados "puttony" ou “putt”. São elas que irão definir o grau de doçura do Tokaji Aszú. O rótulo menciona 3, 4, 5 ou 6 "puttonyos", o que traduz a quantidade de "puttonyos" (caixas de uvas botritizadas) que foram acrescidos aos 136 litros (correspondentes a uma barrica local - ou "gönc") de vinho base, ou seja, mosto fresco de uvas brancas não atacadas pelo fungo. Atualmente, a doçura se mede por gramas de açúcar residual por litro. O tempo mínimo de estágio em barricas também varia e até recentemente se dizia que seria, em anos, o número de puttonyos mais dois. Assim, um Aszú 6 "puttonyos" só poderia ser engarrafado, no mínimo, oito anos após ser produzido. Na prática, não é bem assim e se engarrafa bem antes do previsto.

Via di Vino



Nenhum comentário:

Postar um comentário